
Tu és,
Aquele em que o meu olhar se poisa por um breve momento,
Tão breve mas que me parece uma eternidade.
Um rosto sem nome,
Indiferente ao que te rodeia,
Encostado a uma parede qualquer.
Da tua boca não saem palavras,
Apenas a aura de tristeza que te envolve,
Permite sentir a vida em ti.
Mendigas sem palavras, sem movimentos,
Sem um pedido.
Tu és,
Aquele que todos olham cheios de medo,
O que não se deve olhar durante muito tempo,
Porque traz uma dor profunda desconhecida.
Tu és,
O que não se deve pensar ser um dia,
Aquele que faz surgir perguntas,
Perguntas que causam incómodo.
Aquele ao qual a história da vida,
Pregou uma partida,
Aquele que tem muita dor para contar.
Como explicar a tua situação,
Como resistir à vontade de te ignorar,
De fazer como se não estivesses ali
Encostado àquela parede vazia.
Sem nada,
Sem ninguém,
Sozinho na tua terrível mágoa,
Uma mágoa muda que transborda contra a tua vontade,
Que a tua modéstia e passividade perante o passar dos dias,
Que os teus olhos baixos,
Escondem.
Talvez seja vergonha,
A causa desses traços no teu rosto sem vida.
Tu és,
O resultado do meu,
Do nosso egoísmo.
08/12/2000
Catarina Louraço